Aqui fica um artigo escrito por Filomena Gomes da Patagónia Luso Expedition acerca da preparação necessária para a realização de viagens de bicicleta em autonomia. "O Mundo é simples", escreve a Filomena, parafraseando Gonçalo Cadilhe. E não é que é mesmo?
"A preparação para uma viagem de bicicleta em autonomia não é nova para nós. Na verdade, há alguns anos que o fazemos. Começámos com pequenas viagens, de 2 ou 3 dias, e fomos evoluindo para viagens um pouco maiores, à medida que a paixão pelas viagens e pela bicicleta crescia. Primeiro andámos por Portugal, depois fomos até Espanha, percorrendo os vários Caminhos de Santiago e depois mais longe, pela Europa e não só.
Gostávamos que as pessoas percebessem e se convencessem que não é preciso ser dotado fisicamente para fazer isto; basta ser empenhado e esforçado. Também não é preciso ser rico ou dispor de grandes recursos financeiros para colocar em prática uma viagem em bicicleta; nós até somos adeptos do “low cost”, e poupamos o mais possível durante estas nossas viagens. Nem tão pouco é preciso estar desempregado ou abandonar o emprego ou a vida que se tem para poder viajar em bicicleta; basta guardar as férias a que se tem direito por lei e utilizá-las nestas viagens. Pois outra coisa não sabemos fazer e não gastamos nem férias nem dinheiro em cruzeiros, excursões ou viagens exóticas organizadas. A organização fazemos nós, os locais exóticos somos nós que os delineamos, com estudo de percursos/tracks de GPS, alojamentos, infra-estruturas existentes, tudo retirado da internet, de sites oficiais ou de blogs e fruto de muitos, muitos pedidos de colaboração com pessoas que sabemos já terem pedalado nos locais onde queremos ir. Estas pessoas são muitas vezes desconhecidas, que encontramos online, portugueses ou estrangeiros e após as sucessivas conversas via e-mail e trocas de informação, tornam-se verdadeiramente nossas conhecidas de há muito tempo!
“O mundo é simples”, é um título de um livro de Gonçalo Cadilhe, e é verdade! As pessoas estão dispostas a dar o que têm. Não só fornecem voluntariosamente a informação de que dispõem para ajudar quem quer viajar, como também, em viagem, as pessoas que se encontram por esse mundo fora são, regra geral, amistosas. Convidam-nos para sua casa. Oferecem de comer e de beber. Conversam. Apreciam e admiram. Gostam de saber e de conhecer. Incentivam. E são generosas e bem-intencionadas. Independentemente do local do mundo. Os viajantes em bicicleta não são alvos a abater. Pelo contrário, chamam a atenção pela simplicidade do seu meio de transporte e não atraem a cobiça alheia, pois são encarados como gente despojada de grandes bens. Por isso, atrevam-se, partam e não receiem pois quem não se atreve, mais tarde lamentará não o ter feito…
Viajar de forma simples significa também ser simples na bagagem, sobretudo quando temos de carregar tudo numa bicicleta! Assim, basicamente, o que carregamos para uma viagem de 3 dias é o mesmo que carregamos para uma viagem de 1 mês, por estranho que possa parecer! A roupa lava-se diariamente e há truques para ajudar à secagem. Como na montanha, funcionamos por camadas, consoante as temperaturas médias normais em certo local e certa altura do ano. Na Patagónia, mesmo sendo transição Primavera/Verão, esperamos frio e vento, muito… Levamos os excelentes equipamentos térmicos MoveFree/Cofides: dois equipamentos para… 28 dias! Alguns acessórios a mais devido ao frio com que contamos, por exemplo: buffs e passa-montanhas, luvas e meias mais quentes, um polartech como abafo extra. De resto, nada de muita roupa casual, uma única muda e par de sapatos chegam.
Também temos de ser simples e contidos nos artigos de higiene e dormida. Bolsas, “necessaires” e carteiras só fazem peso e volume; há que acondicionar tudo em sacos de plástico e ter o cuidado de transportar roupa e saco-cama (forçosamente de pequeno peso e volume) em sacos estanques, para o caso de chuva.
A nossa preparação física não é específica. Desde há vários anos que temos hábitos desportivos diários. Sabemos que estamos fisicamente preparados porque temos experiência e, por isso, temos noção do que é pedalar dias e dias seguidos, numa média de 100kms diários, com alforges a pesar 10 ou 15kgs, com chuva, frio e vento, ou com calor abrasador. Na realidade, o factor físico é aqui secundário. O principal é o factor psicológico, é a determinação mental em prosseguir, aconteça o que acontecer, o caminho é para a frente. Ninguém fica no meio de uma montanha ou de um deserto. Se ficar, por motivo de uma avaria ou intempérie, há que manter a calma, analisar a situação e decidir em conformidade. Mas tudo tem solução e há que ser forte, flexível e ter espírito de sacrifício. Ninguém se perde, pois os preciosos GPS Garmin indicam o caminho a seguir, bem como as estradas/vias alternativas existentes por perto.
O mais importante é acumular experiência, a todos os níveis, e testar e experimentar tudo, a nível de material, até ao limite. Nós levamos as excelentes bicicletas 29er para um território inóspito e onde será difícil encontrar sobressalentes para este tipo de rodas. Por isso, vamos carregar o
material de substituição específico. Chama-se a isso precaução. Mas é impossível levar tudo, o bom senso é fundamental.
Manter o espírito aberto, ser optimista, permeável ao que nos rodeia e bom observador, são estas as chaves para qualquer viagem em bicicleta. Uma certa dose de audácia, boa disposição e pronto!"
- Escrito por Filomena Gomes, que faz parte da Patagónia Luso Expedition juntamente com Ricardo Mendes. Os dois vão percorrer 2200KM em 28 etapas pela patagónia e benefício da Operação Nariz Vermelho. A sua meta é angariar 1€ por cada quilómetro percorrido, num total de 2200.00€. O dinheiro angariado reverte inteiramente a favor da Operação Nariz Vermelho. Contribuam em http://ppl.com.pt/investment/patag-1020.
Mais sobre o projecto em: