Aqui fica um texto de de Ricardo Jesus, um apaixonado pela bicicleta de estrada que está treinar para participar numa étapa do Tour de France. Um belo exemplo para quem procura cumprir os seus objectivos sem prejudicar a sua vida profissional ou familiar:
"O meu treino normal para a Etape du Tour, dura entre 2 a 3 horas e envolve muito desnível e localiza-se normalmente na Serra da Arrábida que fica mesmo no meu “Quintal”. O treino começa no dia anterior, com a preparação da bicicleta, enchimento de bidons e escolha da roupa a levar em função da temperatura prevista, para não perder tempo de manhã (todos os minutos contam, quando depois do treino temos de nos deslocar para o trabalho).
Como tenho família e preciso de lhes dar apoio, tenho de estar em casa por volta das 8:00 (no fim de semana às 9:00), pelo que a maior dificuldade do treino não está, como à partida se podia pensar, nas subidas, mas sim em levantar-me da cama às 06:00 da manhã. Perguntam-me regularmente se às vezes não me custa levantar da cama e a minha resposta é: “custa-me sempre levantar da cama”, pelo que todos os dias é uma luta e, normalmente, só lá vou com muita força de vontade e pensamentos tipo “sofre agora para desfrutares depois”.
Depois de me levantar, uma vez que já deixei tudo preparado no dia anterior, em 10 minutos estou a pedalar, embora com a visão toldada por um nevoeiro que nunca sei se é dentro ou fora da minha cabeça. A primeira dificuldade aparece logo ao km 1,5 com uma rampa de cerca de 1km de extensão e 7% de desnível de acesso aos “Picheleiros”, logo seguida de outra, com o mesmo pendente, mas mais extensa, de 2,5 kms que dá acesso à fábrica da Secil (sim é verdade, somos visionários ao ponto de construir uma fábrica de cimento no meio de um Parque Natural ?!??).
Chegado à fábrica de cimento, segue-se a subida mais longa do treino, 5 kms a 6% até às “antenas”, com um sprint intermédio em plena subida, para fugir de um pastor alemão cujo dono teima em deixar solto durante a noite e que gosta tanto de bicicletas como eu gosto da Sra. Merkl.
Finda esta subida, está na hora de iniciar uma descida vertiginosa até ao Portinho da Arrábida, onde alguém escreveu na estrada, logo no início, a palavra “Hapiness”, e de facto, felicidade é o que se sente nesta descida onde já atingi 82 kms/h.
Chegado ao Portinho, há que voltar para trás e enfrentar a subida mais dura da Serra da Arrábida, há quem lhe chame a “solitária” mas eu chamo-lhe a FM (Filha da Mãe), porque tem uma pendente média acima dos 10% e no último km tem mais de 15%, ou seja, é uma parede.
Para terminar, outra subida durinha, junto ao Convento de Jesuítas, também com cerca de 10% de inclinação, novamente até às antena e regresso a casa, passando pela padaria para comprar pão para o pequeno almoço das crianças.
É este o meu treino normal, e é paradigmático daquilo que é preciso fazer para a Etape du Tour quando se tem pouco tempo, ou seja, optar por treinos de qualidade em detrimento da quantidade. Abaixo alguns dados deste treino. O gráfico da altimetria é elucidativo!"