Etapa de XC, com um circuito de 7 kms. Nesta etapa as duplas não tinham que andar juntas, sendo que o vencedor seria quem terminasse primeiro 5 voltas ao percurso, terminando aí a etapa para todos os atletas. Os atletas que não cumprissem 5 voltas, teriam que terminar pelo menos 1 e as restantes ficariam com o mesmo tempo da pior volta realizada pelo atleta.
Visto que já estava desclassificado, optei por não participar nesta etapa. Aproveitei para recuperar fisicamente e assentar ideias (ainda não estava refeito da frustração do dia anterior). Fiz ainda uma massagem que me deixou dorido mas que verifiquei, foi fundamental para a minha recuperação.
Etapa 4 - 81,5 kms, 2.343 m D+
No dia anterior decidi que, por cautela, deveria realizar esta etapa como sendo uma etapa de recuperação. Estava com medo de ter novamente caibras, apesar de já não ter indícios nesse sentido.
Optei por fazer uma saída mais lenta e fui na companhia dos Bike Angels Sérgio Rosado e Paulo Quintans. Rapidamente percebi que o estranho ataque das "piranhas" tinha passado e que me sentia bem, com bastante força até!
Este foi um dia marcado pelos distúrbios intestinais de grande parte do pelotão! Frequentemente encontrávamos "bicicletas abandonadas", encostadas às arvores, enquanto os atletas se encontravam no meio da vegetação. Alguns tiveram que parar mais de cinco vezes neste dia!!
Outra característica que marcou a etapa, foi o calor constante... No próprio dia a Organização informou que tinha sido registados 50 graus como temperatura máxima. Na altura achei exagerado, mas já em Lisboa, quando descarreguei a informação do GPS pude constatar que realmente a temperatura máxima tinha sido essa!!! 50 graus! "Nossa, assim você me mata"!!
Etapa 5 - 128 kms, 1.750 m D+
Nesta etapa faríamos o regresso ao acampamento de Mucugê.
Esta foi uma etapa à minha medida! Sentia-me muito bem fisicamente e com vontade de mostrar a mim próprio que estava "de volta".
No dia anterior, e apesar de desclassificados, os nossos tempos foram contabilizados. Como o Nélson optou por seguir a um ritmo diferente do meu, chegámos com uma diferença superior a 2 minutos, o que nos custou uma penalização de 1h... Neste dia, decidimos que quem chegasse primeiro a cada Ponto de Controle deveria esperar pelo outro, caso não estivéssemos juntos. E assim foi.
Nos últimos 40/50 kms o Nélson começou a quebrar e a preocupação era que os últimos 30 kms, apesar de relativamente planos, tinha um vento "contra" muito forte, e que se o combatêssemos os dois sozinhos poderia tornar-se penoso. Juntámos assim um grupo para dividir as "despesas" de puxar contra o vento.
O facto de estar desclassificado acabou por me permitir fazer coisas que normalmente não fazemos numa prova (pelo menos eu não faço). Tirei fotografias, conheci muita gente enquanto pedalava e, neste dia, tomei um banho espectacular numa cachoeira!!
Etapa 6 - 119 km, 1.500 m D+
Etapa semelhante à do dia anterior. Muito rolante, com parte do acumulado de subida concentrado entre os kms 70 e 90. A partir daí seria exactamente igual à Etapa 5.
Com 15 kms de asfalto logo de inicio, saímos muito rápido, apesar do forte vento que se fazia sentir. Nestas situações é importante encontrar um grupo com um andamento semelhante ao nosso para nos sentirmos confortáveis e não nos custar tanto a deslocação contra o vento.
Até ao segundo abastecimento tudo estava a correr como previsto. No entanto aqui dei-me conta que tinha um raio partido na roda traseira... Sem stress, disse ao Nelson que ficava por ali e que ia num carro de apoio. Afinal o que restava da etapa era igual ao dia anterior. Percebi pela cara do Nelson que o preocupava ter que terminar com o vento "contra" sozinho sem a minha ajuda, por isso fiquei a reparar a roda no apoio técnico enquanto ele seguiu com amigos que fizemos entretanto. Ficou comigo um grupo de amigos portugueses, com quem segui a partir daqui.
Ao km 90, no último abastecimento, lá estava o Nelson à minha espera. Disse-lhe para ir seguindo que já o apanhava, pois não tinha coragem de deixar o grupo com quem tinha chegado.
Os últimos 30 kms, contra o vento, foram um teste à minha capacidade física. Puxei pelo grupo, mais os atletas que íamos passando e que se juntavam. Éramos mais de 20 atletas a "rolar" entre os 30 e os 35 km/h. Lá atrás gritava-se "mais devagar", mas eu queria chegar o quanto antes e se eu estava a sofrer, tínhamos que sofrer todos!!
A 1 km da meta estava o Nelson à minha espera para chegarmos juntos e não levarmos mais uma hora de penalização!"
Grande dia este!!!
- Texto escrito por Pedro Duque
"Prólogo - 19 kms, 290 m D+
Circuito muito técnico, com bastante pedra, areia e raízes. Seria um pouco de tudo aquilo que iríamos encontrar ao longo da semana.
Senti algum cansaço que associei às viagens dos dias anteriores, por isso não me preocupei. No entanto, o pior veio a seguir: durante toda a tarde e noite senti caibras insuportáveis, algo que raramente me acontece e menos após apenas 19 kms!! Algo não estava bem...
Etapa 2 - 144 kms, 3.072 m D+
A etapa mais longa e dura do Brasil Ride. Com início muito forte em alcatrão, entrámos em estradão com muita areia. Para evitar embater no Nelson que perdeu o controlo da bicicleta, dei uma queda que me afectou o desviador traseiro, fazendo com que parte das mudanças não entrassem. Com o decorrer da etapa começaram a surgir novamente as caibras. Dores horríveis que não me permitiam pedalar, andar ou estar parado. Já não sabia o que fazer! A juntar tinha o problema mecânico que fazia a corrente “saltar” constantemente... Foi um pesadelo que se tornou pior quando entrámos no “Vietnam”: um single track em subida, de aproximadamente 15 kms, em grande parte não ciclável. Esta parte do percurso acabou com o resto da minha energia e ainda faltavam 30 kms!!
Ao km 122 encontrava-se o último Check-Point da etapa. Uma vez que ficámos sem bateria nos GPS perdemos a noção das horas, fomos surpreendidos por nos terem dito que não podíamos continuar em prova nesse dia. O horário de corte previsto tinha passado há 40 minutos... Nesse momento senti a maior tristeza de sempre a nível desportivo: ser desclassificado de uma prova por etapas e sentir-me impotente por não conseguir fazer mais!! Foi frustrante por mim, pelo meu colega de equipa, pelos amigos que treinaram comigo ao longo do ano e pela família que abdicou da nossa presença durante tantos dias. Admito que chorei e que esta etapa será responsável por ter que regressar ao Brasil para realizar de novo esta prova.
Rio de Contas passou a ser o quartel-general do Brasil Ride nos dias seguintes."
- Texto escrito por Pedro Duque
"Mais um participação da MFT num evento, desta vez em estrada. Marcaram presença 3 corajosos: Carlos Esteves, Hugo Esteves e Carlos Cruz. O desafio assustava: 150 km, com 3.000 m de acumulado. Na Lousã vivia-se, desde a véspera um ambiente espectacular, pois a presença de 800 inscritos tornava este evento algo unico. Por todo o lado se via carros com bicicletas em cima. No dia da prova, sem o stress e a pressa habitual dos eventos de Btt (com excepção da Maratona de Sintra que utilizou um esquema semelhante) todos se dirigiram para os blocos de partida. Após tomar o Gold Nutrition Pre Workout Endurance, lá nos juntámos também.
Partida sem confusão, mesmo na hora marcada e após o carro da organização sair da frente do mega pelotão, a equipa do Prio Tavira define o andamento. Foi o suficiente para, a partir desse momento, cada um começar a escolher o seu ritmo de prova. Ao longo da prova, encontrámos paisagens deslumbrantes, descidas vertiginosas, subidas longas, outras violentas, mas acima de tudo um convívio e uma entreajuda entre todos os participantes, tipica de um evento de estrada. A organização superou as expectativas. Apesar das estradas estarem abertas, não havia um cruzamento sem alguem da organização a indicar o caminho e a controlar o trânsito. O gps não foi preciso, porque, para além dos elementos da organização, as setas eram tantas que era impossível alguém se perder. Em todos os pontos perigosos havia sinais ou alguém da organização a avisar. Uma palavra também para os motards, mais de uma dezena, que sempre estiveram presentes a acompanhar a longa caravana de ciclistas.
À chegada, foi muito interessante passar pelo arco de meta com a indicação do tempo de prova, assim como também o foi a opção da refeição volante de massa, embora alguns pouco apetite tivessem, pois ao longo da prova, entre abastecimentos, barras de Endurance e Géis da Gold Nutrition, pouca vontade sobrava para comer após um esforço desta dimensão.
Foi duro? Foi. Muito. Para todos, mas acredito que foi mais para quem demorou mais de 8 horas do que para os que fizerem menos de 6, porque os km estão lá para todos e as subidas são mais demoradas e mais duras para quem está menos preparado. Para estes os meus parabéns e o desafio de para o ano se superarem e se prepararem com a ajuda do Bike Performance Center."
- texto escrito por Carlos Esteves
Aqui fica o relato na primeira pessoa do Pedro Duque, que se auto-define como um "atleta amador viciado em bicicleta" sobre as suas peripécias no Brasil Ride!
"Começo este texto com um agradecimento à Movefree, em especial aos seus colaboradores da loja no Forum Sintra. Têm sido uma ajuda fundamental e de um profissionalismo espectacular!! Obrigado Pedro, Vanderlei, Rui, Francisco, João.
Este é um testemunho escrito por um atleta amador, viciado em bicicleta e que pretende divulgar as experiências que este desporto lhe tem proporcionado e que espera, sirvam de inspiração a outros em situação semelhante!
Projecto Bike Angels
A equipa Bike Angels é composta por um grupo de amigos, onde me incluo, que tem como hobby pedalar, seja em estrada ou BTT. Com elementos de diferentes quadrantes (músicos, ex-ciclistas profissionais, gestores de empresa). Depois de em 2011 termos participado na prova Titan Desert, no deserto do Sahara, com vitórias em duas categorias, este ano tivemos como desafio o Brasil Ride, na Chapada Diamantina (Bahia). Esta dura prova, em que tive como dupla o Nelson Rosado, divide-se em Prólogo e 6 Etapas, num total de aproximadamente 600 kms e 10.000 m de desnível acumulado positivo (D+).
Além da componente desportiva, o projecto Bike Angels tem a componente solidária como missão. Tem como principal objectivo angariar fundos para o Movimento Bike4Help (www.bike4help.com), constituído pelas Instituições de Solidariedade Social MSV/Casa das Cores, Casa dos Rapazes, Terra dos Sonhos e Instituto da Imaculada Conceição.
2012 - Ano “non stop”
Pessoalmente este foi um ano desgastante, com cerca de 9.000 kms e 65.000 m D+ percorridos até Setembro. Juntamente com esta distância percorrida há-que juntar as horas longe da família e amigos, o deitar cedo pois no dia seguinte há treino, “fechar a boca” para não engordar... Não é fácil e muitas vezes nos questionamos “porquê?”. A resposta está na paixão por este desporto e no facto de termos pessoas que nos apoiam e acreditam em nós!!
Posso dividir 2012 em Pré-Cape Epic e Pós-Cape Epic. Até à prova na África do Sul, tive a companhia do Ricardo Figueira, com treinos praticamente diários e a participação na Andalucía Bike Race. Foi duro mas produtivo! Após o Epic, os treinos tornaram-se mais intermitentes, o compromisso não foi tão grande (até porque entretanto chegaram as férias de verão em família) e o resultado não podia ser outro: 5 kgs a mais em relação a Janeiro, a um mês do Brasil Ride. Seria impossível recuperar o peso até à prova!!
Nas semanas que antecederam a partida para o Brasil tentei fazer uma preparação “express”, com treinos como Sintra-Figueira da Foz em BTT (200 kms, sozinho), Seixal-Terena, Alandroal em estrada com o Nelson (ida e volta, com 360 kms em dois dias) e dois dias na Serra da Estrela (160 kms em BTT), também com o Nelson."
Brasil Ride - Dias prévios
Como sempre, os preparativos foram deixados para as últimas horas em Portugal. A primeira preocupação foi realizar uma lista “to do” para que não esquecesse nada de importante. Uma prova destas implica uma grande logística da nossa parte, que inclui preparar a bicicleta e embalá-la, preparar os equipamentos a utilizar (jersey, calções, meias, luvas, capacete e sapatos), GPS e cinta, protector solar, creme anti-fricção, creme para assaduras, material de substituição para a bicicleta, suplementação, barras, géis, artigos de higiene pessoal, bidões, Camelbak, óculos de sol, medicamentos, ... Um sem fim de coisas e todas elas importantes!!
Curiosa foi a dificuldade de escolha da bicicleta: até ao dia anterior à partida não sabia se levaria suspensão total ou rígida... Pedi várias opiniões e não cheguei a nenhuma conclusão! Optei por levar a Stumpjumper HT S-Works 29” por ter menos peso e querer proteger o joelho direito que começou dar fortes sinais de cansaço na Serra da Estrela.
A partida para Salvador foi no dia 21/9. As viagens trans-atlânticas são um castigo para mim! Não consigo ficar fechado tantas horas, para além do facto de que quando chegamos ao destino estamos “feitos num oito”. Desta vez foi igual... Depois de 8 horas de voo, chegámos a Salvador a meio da tarde. Deixámos as bicicletas no aeroporto pois no dia seguinte iríamos partir dali para Mucugê, na Chapada Diamantina. Em seguida fomos para o hotel tomar banho e jantar um rodízio de carne, com todos os participantes portugueses na prova. A seguir cama, pois o dia já ia longo
Às 6h do dia 22 já estávamos de volta ao aeroporto. Esperavam-nos 9 horas de viagem num autocarro, com paragem para almoço. As bicicletas viajaram num camião, com escolta policial.
A chegada a Mucugê foi já de noite. Havia que montar as bicicletas, fazer o check-in na prova, escolher as tendas para dormir, e jantar (organização não disponibilizou nenhuma refeição aos atletas, mesmo tendo estes realizado a viagem de 9h...)! O dia anterior ao início do Brasil Ride foi tudo menos tranquilo."
- aguardem pelos próximos episódios!!!
"Dirigimo-nos para a segunda maior cidade deste país, Akureyri, num dia de pesadelo: o vento estava indomável, contra ou do flanco direito, em rajadas capazes de nos fazer cair, assim como nos caíam as lágrimas pela cara devido à violência daquele vento fustigante, que quase nos cega. Chegamos semi-moribundos a Akureyri, cuja beleza e paisagem circundante ao fiorde onde está localizada, nos tranquiliza e nos deixa recuperar e passear. Segue-se Varmahlid num dia bem mais tranquilo, embora já estivéssemos avisados da tempestade que se previa para esse fim de dia, e à qual ainda escapámos.
De manhã, o cenário é belo mas assustador: mais um nevão com vento fustigante, que deixa um manto branco até onde a vista alcança, e que ao longo do dia vai engrossando e trazendo cada vez mais hóspedes para a nossa farm house. Atrevemo-nos a sair no dia seguinte, mas não vamos longe: recomeça a nevar, o piso parece uma pista de patinagem no gelo, o vento aumenta à medida que subimos a montanha, o limpa-neve e os veículos de resgate não têm descanso… resta-nos pedir ajuda, porque queremos mais tarde contar a história! Já no hostel, não queremos acreditar nos riscos que quase corremos, pois na descida da montanha o vento ter-nos-ia arrastado por um precipício. Agora estamos a ferver no hot pot de Saeberg, e o dia seguinte leva-nos tranquilos até Borgarnes, embora os quilómetros se tenham tornado um verdadeiro inferno!
Chegamos ao último dia de pedaladas sérias, e um caso sério foi o que tivemos ao encontrarmos um túnel proibido a bicicletas a cerca de 52kms do destino, Reykjavic. Foi um balde de água fria (como se a da chuva persistente não bastasse) saber que tínhamos antes 92kms até à capital, obrigando-nos a ir dar a volta completa a um fiorde. Belo, mas não havia necessidade… Reyjavik é moderna, tranquila demais para os parâmetros de uma capital europeia. Apreciamos o sossego, mas a vida nocturna que caracteriza o fim-de-semana islandês aniquila esse sossego.
EPÍLOGO: Não são os números que fazem uma viagem de SONHO. Os quilómetros ambicionados, os desníveis previstos, os dias programados, ficaram aquém do planeado. Mas as expectativas planeadas foram largamente ultrapassadas, pois tivemos experiências únicas, em cenários de Sonho, com amizades imprevistas. AGRADECIMENTO: Aos nossos apoiantes – Cofides Competição; Movefree Bike performance Center; D-Maker; Ortik; Bike Magazine; Bivaque, Extramedia Um Agradecimento muito Especial à missão da Força Aérea Portuguesa – Iceland Air Policing, que nos recebeu e transportou as nossas bagagens no regresso a Portugal. Bem hajam!"
- Texto e fotografias de Ricardo Mendes e Filomena Gomes, da Iceland Luso Expedition